quinta-feira, março 30, 2006

Às 20 para as 8, pode ser?


Lisboa, Out 2005

Dorme num recanto,
de uma pequena rua,
da nossa cidade.

Cartão por baixo,
marmita ao lado,
cobertor por cima.

Chama sempre que passamos por ele. Nunca percebemos se realmente nos reconhece ou se é por sermos alguém que passa no passeio à frente do recanto onde dorme na nossa cidade.

"Boa noite!", diz sempre, com um sorriso ainda dentado na cara. "Eu durmo aqui! E trabalho ali..." diz apontando para um local ali próximo, onde apanha copos durante o dia.
"Durante o dia não estou aqui. Podem-me encontrar aqui às 20 para as 8, pode ser?"
"Às 20 para as 8h Sr J.? mas agora já são 9h!"
"É isso mesmo! Às 20 para as 8 podem-me encontrar aqui! E eu falo convosco às 20 para as 8, pode ser? Então, boa noite..."

E assim continua...
em cada semana que o encontramos...
comendo das sua marmita...
à espera das 20 para as 8h...
no recanto que sente como seu...
da pequena rua,
da nossa cidade...

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