terça-feira, novembro 22, 2005

Banco do jardim...

Velho

Parado e atento à raiva do silêncio
De um relógio partido e gasto pelo tempo
Estava um velho sentado no banco de um jardim
A recordar fragmentos do passado

Na telefonia tocava uma velha canção
E um jovem cantor falava na solidão
Que sabes tu do canto de estar só assim
Só e abandonado como o velho do jardim?

O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem como tu
Um velho sentado num jardim

Passam os dias e sentes que és um perdedor
Já não consegues saber o que tem ou não valor
O teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim
Para dares lugar a outro no teu banco do jardim

O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem como tu
Um resto de tudo o que existiu
Quando forem como tu
Um velho sentado num jardim

Mafalda Veiga

Campo Grande, Julho 2005

2 comentários:

Anónimo disse...

Não sei o que mais me tocou:se a imagem ou os versos porque ambos tão bem se completam e penetraram no meu coração

Anónimo disse...

Desde o primeiro post que este blog não deixa de me surpreender, quer pelas fotografias geniais, quer pelos comentários que sensibilizam profundamente e nos deixam entrar um bocadinho no teu olhar de artista!
O poema da Mafalda Veiga não podia ter sido melhor escolhido!É, sem dúvida, daquelas mensagens que nos desinstalam e que nos alertam para o mundo que nos rodeia.

Beijinhos,
Mariana