Velho
Parado e atento à raiva do silêncio
De um relógio partido e gasto pelo tempo
Estava um velho sentado no banco de um jardim
A recordar fragmentos do passado
Na telefonia tocava uma velha canção
E um jovem cantor falava na solidão
Que sabes tu do canto de estar só assim
Só e abandonado como o velho do jardim?
O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem como tu
Um velho sentado num jardim
Passam os dias e sentes que és um perdedor
Já não consegues saber o que tem ou não valor
O teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim
Para dares lugar a outro no teu banco do jardim
O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem como tu
Um resto de tudo o que existiu
Quando forem como tu
Um velho sentado num jardim
Mafalda Veiga
Campo Grande, Julho 2005
2 comentários:
Não sei o que mais me tocou:se a imagem ou os versos porque ambos tão bem se completam e penetraram no meu coração
Desde o primeiro post que este blog não deixa de me surpreender, quer pelas fotografias geniais, quer pelos comentários que sensibilizam profundamente e nos deixam entrar um bocadinho no teu olhar de artista!
O poema da Mafalda Veiga não podia ter sido melhor escolhido!É, sem dúvida, daquelas mensagens que nos desinstalam e que nos alertam para o mundo que nos rodeia.
Beijinhos,
Mariana
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