É a casa de que sempre ouvimos falar. Que se tornou nossa pela intensidade de memórias. Memórias das histórias ouvidas que remontam aos bisavós e aos trisavós e memórias das histórias vividas que remontam à infância.
Foi por isso que foi difícil dar com ela. As ruelas todas parecidas, buscando aquele recanto de que nos lembrávamos perfeitamente e perfeitamente enganadas pelas memórias de criança. Conseguimos, no entanto lá chegar!
E mal cruzámos o portão verde e descascado foi possível ouvir, ainda ao longe, fundo na memória, o barulho do comboio a passar, com a história do cão que adormeceu com a pata em cima da linha e só perdeu uma unha, de ver os ibiscos, que continuam a existir sempre onde quer que a minha avó viva, a ouvir os caseiros e a empregada de uma vida (a Alicinha), que fazia o melhor arroz doce do mundo e que provocou a fama de eu gostar imenso de arroz doce!
Cruzando a casa ouviu-se ainda tocar, muito ao longe o violoncelo da bisavó, que fazia que sempre que tocava uma pequena aranha descesse do tecto, voltando depois a subir e, se escutassemos com mais atenção, ouviamos o duo do violencelo da bisavó e do piano da mãe a treinarem para os seus concertos... E tanto tanto mais! Foi mesmo um regresso aos resquícios do passado...
S. Pedro do Estoril, Out 07
2 comentários:
M.A.Meu Deus!Que surpresa e que emoção. Não só de ver desfilar as memórias gravadas no mais profundo de mim mesma como de encontrar o eco delas no coração de uma neta que soube vivê-las através das minhas recordações. Esse foi o mais belo presente que me podias ter dado.
As memórias, mesmo as de coisas que nunca vivemos, constroem-nos tato como as das experiências que vivemos.
Estas me´mórias estão muito giras!
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