Eram 11h da manhã. O sr. K.S. teve alta hospitalar. De acordo com os médicos estava tudo ok. É indiano. Enquanto estava no hospital aparentava estar desorientado mas conseguiu explicar a uma tradutora que tinha casa e morava no bairro Campolide em Lisboa. Sim, porque ninguém sabia nada dele. Tinha sido encontrado no chão, alcoolizado e com um traumatismo craniano. Portanto o nosso papel seria só levá-lo até casa. Um instante... Wrong...
Saímos do hospital com o senhor apenas referindo esse bairro e o Martim Moniz (MM). Fomos então com ele até ao MM na esperança que encontrasse alguém conhecido. Chegado lá... insistiu em ir ao MM...Connosco a insistir que era no MM que estava...enfim, o sr encontrava-se muito desorientado mesmo, não só no espaço, mas também no tempo!!! O outro bairro já não era mencionado...
Decidimos levar a almoçar a uma instituição de forma a que tivessemos tempo para comer qualquer coisa e fazer telefonemas com hipoteses de alojamento para o sr.
Depois de almoço já tinhamos ligado para 2 instituições possíveis. Uma recusou, outra pediu para falar com outro responsável, e outro, e outro até que acertámos na pessoa! Se o sr. aceitasse poderia ir para lá, mas não poderia beber, fumar ou sair sozinho. Regras da casa. O que seria bom para quem estava desorientado!
Voltámos ao MM. O sr. começa desesperado a querer tabaco e só depois de satisfazer isso pensa na casa. Se não consegue não fumar e queria também beber decidimos esquecer a outra hipótese de alojamento.
Insiste que a casa é no MM, (onde nos encontrávamos!), então dizemos: "siga à frente que nós vamos lá consigo".
É aqui que a "sorte" começa a mudar. Passamos o Rossio e na Praça da Figueira encontramos um conhecido indiano que nos diz que ele mora no bairro S. "Ufa", pensámos nós. Wrong... liga a um outro amigo indiano que mora nesse bairro que nos explica que o sr K.S. é uma pessoa "indesejada" no local. Que está a dormir na rua no bairro há uns tempos porque não pagava a renda, embebedava-se e ninguém conseguia aguentá-lo mais, mas que tinha lá amigos que talvez o recebessem agora.
Apanhámos um taxi e vamos para esse bairro. Lá chegados alta festa! "Ufa", pensamos nós outra vez... Wrong...Decidimos ir com ele até à sua casa. bate à porta e nada. Bate outra vez e nada. Bate 3ª vez e nada... a vizinha entretanto aparece e diz que o dono da casa tinha saído há 3m para ir apanhar o comboio na estação pois ia para Espanha trabalhar. Corremos feitos loucos até à estação e estava o comboio a chegar quando dizemos (gritamos!) para não apanhar o comboio e esperar um pouco.
O amigo esperou. Em conversa diz-nos que ele não pode ficar lá em casa, que já esgotou a paciência e o dinheiro que gastava com ele. Falamos na hipótese de o K.S. voltar para a India (está em Portugal há 8 anos).
O amigo (impecável e ansioso de se livrar do "embrulho") liga para a família na India. K.S. fala com a família que lhe diz que já não o aguenta e não o recebe. Ele diz também não querer ir...
Marcamos vaga num centro de acolhimento, para pelo menos ter onde dormir uma noite.
Às 19h K.S. percebe que não vai poder ficar na casa que pensava ser sua sem o ser e vai-se embora sem nos dizer nada. Deixa-nos com o amigo. Procurámo-lo e já estava à procura de um sítio onde pudesse beber...