Galé, Junho 2005"Mas, afinal, o que é a felicidade?
Ser feliz é como os lugares de férias, de águas límpidas e azuis, que, quando os olhamos para a frente, "algo" nos diz que não deixaremos de os conhecer, e, quando nos voltamos pra trás, parecem só existir nos folhetos das viagens.
Há ideias assim. Lidamos com elas como se fossemos velhos conhecidos, falamos como se lhes configurássemos os mínimos contornos e, chegados à altura de as definirmos, esgueiram-se e escapam-nos. Se somos (todos) felizes, como dizem, não devímos definir, com facilidade, aquilo que, supostamente, conhecemos tão bem?
(...)
Não sermos felizes não pressupõe que sejamos infelizes. Não sei como hei-de chamar às pessoas que, não sendo felizes, não são infelizes. Imagino-as, mais do que peregrinos, alquimistas. Daqueles que imigram num sonho e se orientam como se lessem os astros. E de cada vez que enxergam o céu, nos olhos de quem olham, descobrem que um ninho das estrelas terá morado, sempre, ao pé de si. Sobretudo quando se dá, cá dentro, um "abre-te sésamo" sem que seja preciso dizer "abracadabra".
E se é feliz. Até que se volte a ser, simplesmente, um lugar de férias. Todos os dias...Eduardo Sá, in "Chega-te a mim e deixa-te estar"
