Lisboa, Março 2006
Senta-se à porta de um supermercado durante o dia. De cartão por entre o corpo e a pedra quadriculada a branco e escuro estica a mão.
Entre uma, duas e muitas mais cervejas e por entre estranhos, conhecidos e amigos vai passando o dia. Por entre o dia...
Pediu para se marcar uma consulta no Centro Regional de Alcoologia Sul. Sente-se a perder a saúde e quer ser internado. A consulta é marcada e calha num dia chuvoso. Muito chuvoso. Do qual resulta um desencontro e a falta à consulta.
Uma semana depois, passávamos para combinar nova marcação quando nos diz que já não dormia há 3 dias e que se sentia doente, mal disposto e com dores.
"Quer ir ao hospital?" "Sim", é a resposta imediata.
9 horas depois saímos de lá, do hospital. Com a certeza de análises feitas. Com a certeza de um Rx aos pulmões feito mas perdido entre a sala de rx e o balcão de homens. Com a certeza da receita de um medicamento e com a indicação de no máximo 5 dias ter de ser atendido numa consulta de especialidade.
Com a certeza de que não tem ninguém de família que o apoie pois, no momento de maior aflição, quando percebeu que podia estar realmente mal, disse querer falar com a irmã. Com a irmã com a qual não tem contacto há muitos, muitos anos e de que não faz ideia o contacto telefónico, a morada ou mesmo se está viva.
Com a certeza que depois do susto continua decidido a fazer o tratamento de alcoolismo, a retomar o tratamento com antiretrovirais, a tratar o problema grave de pele que tem...
Com a certeza de saber que terá de lutar todos os dias para manter esta motivação!
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