quarta-feira, fevereiro 15, 2006
"Encontrámo-lo caído no chão!"
Lisboa, Julho 2005
Sexta-feira de manhã.
Ligam a dizer: "Encontrámos um sr. já de muita idade caído no chão e sem dinheiro! Não quis ir para o hospital, foi para uma pensão. Não conhece ninguém em Lisboa
Sexta-feira à tarde a história.
É de uma terra no Norte. Tem 78 anos. Saíu do lar para vir tratar de uns assuntos a Lisboa. Os assuntos não são faceis. num dia andou "mais de 22km!" e perdeu as forças. Perdeu o dinheiro que trazia. Perdeu também as roupas porque não podia regressar à pensão onde tinha a dívida.
O resultado? A rua. Um banco na paragem de um autocarro, de onde uma noite caíu e partiu a cabeça.
O Orgulho. Não quer ajuda. Não quer voltar para a terra sem ter conseguido tratar das coisas sozinho. Não quer mostrar a "impotência" da idade.
É sexta-feira ao fim da tarde e não há vagas em albergues. Não há dinheiro para ficar na pensão. Do lar não conseguem dar uma resposta. Os serviços estão a fechar...
No entanto, o fim é risonho: do lar da F. conseguem arranjar um amigo que pague o quarto da pensão no fim-de-semana. Outra instituição leva comida e muda de roupa durante o fim-de-semana. Outra ainda paga na 2ª feira o transporte para a terrinha. O lar vai buscar ao terminal de autocarros.
Só falta motivar e demonstrar que é não é vergonha nenhuma regressar de mãos vazias... Também isso se conseguiu.
Só a solidão dos dias passados numa cidade de mãos vazias e doente é que ninguém lhe tira...
"Estive a pensar...será que me podiam dar o vosso contacto para eu vos escrever uma carta?"
2ª feira às 15h45: Apanha o autocarro no terminal em 7 rios.
Boa sorte Sr. Manuel...
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2 comentários:
Caramba! Grande Sr. Manuel!! que rijo! e que sorte que teve...
Quantos Manéis andam por aí?!!!
A quantos oferecemos a nossa indiferença?...
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