Lisboa, Outubro 2005
Tem a noite por companhia...
Tem 23 anos. Dorme na rua desde os 15. Por onde? Não se sabe.
Entre casa, barraca, pensão, casa alheia e vida alheia vai vivendo entre o mundo que é o nosso e o mundo que é o dela.
Cruzou o meu mundo de há 4 meses para cá.
Tem-se a si por companhia...
Passeia-se entre a realidade da fome e da sede, das ganzas e das conversas, dos que passam e dela que fica.
Sentada à porta de um multibanco pede a quem passa "uma moedinha", esquecendo que dentro de si há uma vida que não vive de "moedinhas"...
Teve um filho. Pouco depois dos Reis visitarem o menino. No entanto, esta Maria não sabia sequer que estava grávida...
Não tem o filho por companhia...
Hoje está lá. No mesmo sítio de sempre. A ver os carros e a vida a passar. Com um saco por companhia, já não tem o filho por companhia...esse ficou no outro mundo. No mundo daqueles que não são considerados psicóticos, descompensados e desorientados... num mundo onde (para o nosso mundo) ela não se consegue integrar.
Hoje tem o mundo por companhia...
Lisboa, Janeiro 2005
4 comentários:
...
tao bonito que contes histórias dos que tu tens por companhia nas horas do dia a dia.
Muito comovente...a vida daqueles que não tiveram oportunidade de descobrir a "vida" lida com o coração de quem os ama....muito belo!
o mais triste- de quem sofre desse distúrbio, é o abandono dos familiares, dos amigos, e o pior de tudo; ouvir da própria filha - que foi criada com todo carinho e amor,apesar da minha doença, afinal,ela-a kekel (é assim que a chamo),é a pessoa que mais amo na vida, e até por ela fui abandonada, tudo por causa de um bosta de namorado que entrou na vida dela; prepotente, o sabe-tudo, arrogante, e revoltado, porque seus pais são separados. Minha filha foi abandonada pelo pai ainda criança, e agora ele quer separá-la de mim. Ela só tem a mim. A vontade é morrer. Tentei tantas vezes,mas parece que devo passar por isso. Devo ter sido muito má em outra encarnação. Quem quizer conversar comigo, meu e-mail é bethzako@yahoo.com.br
fui chamada de infeliz por minha filha, faltou esse comentário, e até fui agredida fisicamente...
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