terça-feira, setembro 07, 2010

365-249 - O-de-te


O-de-te.
Chamava-se Odete e soubemos há poucos dias que tinha morrido. Tinha 90 e muitos anos e morreu num lar em Paris.
Para mim a Odete já não era essa senhora, com Alzheimer, que morreu sozinha num lar, pois não tinha qualquer familia, nem amigos próximos.
Para mim era ainda a "amiga francesa da família". Aquela que vinha primeiro de 2 em 2 anos e quando chegou aos 90 anualmente, passar 2 meses em casa dos meus avós.
Tinha mais idade que eles os 2 porque a amizade já vinha do tempo da minha bisavó. Uma amizade antiga, portanto.
Foi com ela que todas (as netas) fomos obrigadas a aprender francês. Passávamos os 2 meses a tentar escapar e nunca éramos bem sucedidas. Acho que o pouco francês que sei vem mais desse tempo do que do tempo da escola.
Brincávamos que tinha uma paixão platónica pelo nosso avô. penso agora que não tínhamos capacidade para avaliar a força da amizade e do amor que a unia à nossa família e que a fazia vir (já com 90 anos) de comboio desde Paris.
Foi Odete a minha primeira palavra.
No Verão representado nesta fotografia, tinha eu 8 meses. De acordo com a versão familiar disse O-de-te, enrolando a lingua nesta palavra difícil, mas que representava para mim, sei-o agora, o poder da amizade.
Caparica, 6 Set 10

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