Lisboa, Março 2006
A pergunta de abertura é as horas. Diz-me que são 22h40. O passo seguinte foi referir que nunca o tinha visto ali e que o meu nome era Mafalda.
Estava marcado o passo.
A partir daí seguiram-se quase 40m de conversa. De vida. Da vida. Do que a vida traz.
Sim, porque saber a vida de quem está à minha frente não é saber há quanto tempo está numa situação de rua, porque está hoje naquele local ou o que o levou àquela situação.
Conhecer a vida de quem está à nossa frente é ouvir as histórias. Simplesmente ouvir. Com tempo. Sem pressa. Sem puxar do relógio ou de perder o olhar no vazio. É olhar e escutar activamente.
Ouvir ocmo o acidente que teve aos 13 anos lhe mudou a vida por completo.
Ouvir como descia a figueira que estava encostada à janela da casa para ir ter com as namoradas às escondidas dos pais.
Ouvir como era perfeccionista quando trabalhava e de como era valorizado o seu trabalho enquanto ladrilhador.
Ouvir como era nervoso e como já se tinha exaltado, tendo provocado complicações.
Ouvir...sem ter pressa em saber o nome, a idade ou a escolaridade. Porque a conversa vai trazendo tudo isso no timing devido...
Saber ouvir... foi o ensinamento desta noite de trabalho...